segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

@liscapisca Meets The Television: Altas Horas


Olha, se você é do tipo que um sábado sem um “evento” é como um dia perdido, não se mate de desespero quando todos os seus amigos resolverem sair e nenhum deles se “lembrar” de te chamar. Se você ainda não fez isso, dê uma chance à TV aberta e assista ao Altas Horas, na rede Globo, que você não vai se arrepender. Já faz um tempo que Serginho Groismann (?) tem-me feito companhia nas duras noites de trabalho (chega uma hora em que só consigo produzir se houver barulhinho da TV de fundo). É verdade que, dependendo dos convidados, em alguns sábados o programa parece que meio que se arrasta. Mas às vezes acontece o que aconteceu no último sábado, em que tinha tanta gente bacana (e até a molecada estava finalmente com perguntas interessantes), que quando o programa acaba você fica se perguntando porque não o deixaram no ar até as 6 da manhã.

É verdade que tem algumas falhas. Por exemplo, acho que dois entrevistados por noite estaria de bom tamanho. Semana passada havia três: o lutador Anderson Silva, o ator Diogo Vilela e o cabeleireiro Celso Kamura. Obviamente a molecada monopolizou Anderson Silva. Aí Serginho tem que ficar fazendo meio de campo pedindo alguém para fazer pergunta para B e C (não só para A), e aí o cara que quer porque quer ouvir a própria voz no microfone faz uma pergunta aleatória qualquer só para não perder a oportunidade. Uma pena. Acho que tanto Diogo quanto Celso teriam bastante histórias interessantes para contar.

No último sábado (27/02) foi ao ar o melhor programa que assisti até agora (acho que tem pouco mais de um ano que passo a noite de sábado na companhia do “Serginho” – já me sinto íntima). Estavam lá Lobão, Cyndi Lauper (dois ícones dos anos 80 e personagens ativos da minha infância – eu não cresci ouvindo Madonna, eu cresci ouvindo Cyndi), Bruno Mazzeo e Alice Braga. Os dois primeiros pareciam velhos colegas de escola (ela, aliás, parecia estar tão em casa com Lobão que eu arriscaria que ficou a fim dele) e os dois segundos pareciam meio deslocados (que eu me lembre, Alice Braga recebeu UMA pergunta e Bruno duas). Mas, mais uma vez, estava lá o Serginho Groismann, dessa vez puxando assunto para que todos falassem.

Confesso, comecei a assistir ao programa pelo motivo errado – era por causa do quadro em que se fala de sexo. As perguntas que vinham eram tão descabidas que se tornavam uma atração por si só. Aí comecei a perceber que havia números musicais interessantes (as entrevistas, a menos que se trate de alguém do meu mais grave interessante, só servem para me fazer dormir). Já vi naquele programa coisas do tipo Chorão do Charlie Brown Jr. dizendo para Luan Santana que o tipo de música que ele faz não é o que lhe agrada, mas que ele respeita o garoto e seu trabalho (momento inédito – e inesperado da TV). Também vi NX Zero se apresentando com um rapper. Não gosto de NX Zero e, em geral, detesto rap, mas o resultado daquele encontro foi bacana. Não deixando de lado o público-alvo do programa (a presença de Serginho Groismann e do quadro das perguntas sobre sexo indicam que seria o adolescente, mas não consigo ver aquele como um programa voltado ao público adolescente, muito ao contrário), já houve campanha anti-bullying e ontem houve o depoimento de um rapaz que sofreu trote violento. Mas o encanto do programa está em seus convidados: quando há uma boa seleção, você vai dormir contente em não ter desperdiçado uma noite de sábado. O de ontem, especialmente, foi um daqueles momentos em que a gente diz, com orgulho... poxa, e eu não precisei de TV a cabo para ter uma programação dessas. Pena que não é diário e não tem umas 5 horas de duração.

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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

@liscapisca Meets The Television: Um Improviso Dispensável!



Vou te ensinar a destruir (em apenas seis passos!) um programa genial que tinha tudo para ser um enorme sucesso:

1) Tire o programa de uma pequena TV UHF e leve para uma emissora aberta.
2) Substitua o apresentador principal do programa, que leva jeito para o que está fazendo, por um sujeito sem graça, sem carisma e que parece perdido.
3) Junte a uma equipe de muita competência e que trabalha muito bem, um ator mediano e duas atrizes cuja única graça seja a "beleza exótica".
4) Troque um palco pequeno, simples e funcional por um palco imenso à la Televisa (uma explosão de cores) que distraia a atenção do telespectador.
5) Adicione uma bandinha com músicas para abrir cada quadro (e quebrar o ritmo do programa).
6) Em vez de solicitar a participação do público apenas fornecendo temas para serem desenvolvidos, pegue elementos da plateia (sem preparo algum) e coloque-os no palco. Mate não só o teu espectador, mas também o teu telespectador de vergonha.

Pronto. Acabei de descrever a catástrofe que transformou o antigo Quinta Categoria (MTV) no novo É Tudo Improviso (Band). Nada mais preciso dizer. Assista você mesmo e veja o que aconteceu (links abaixo). Quando o programa chegou à TV Bandeirantes ainda trazia os três excelentes atores da MTV (o Grupo Barbixas), mas acho que até eles perceberam a fria em que haviam se metido e foram substituídos por gente do mesmo nível em que o programa chegou. Ou seja, nada restou para salvar a história.

Como o programa era:

(tem um jogo das frases de brinde, que era muito legal e sumiu durante a metamorfose)

Como ficou:

Vejamos:
1) JOGO DO TROCA TROCA: até o fim da sequência musical, você já terá trocado de canal - PESCOU, HAH?!?!?!
2) Esse "figurino" é que não dá para entender. Parece que estavam tomando um cafézinho no bar da esquina, um virou para o outro e disse: "ei, vamos lá na TV fazer umas micagens?" (o apresentador não, porque aquilo não é roupa que se use em ambientes externos). Na MTV, os atores usavam macacões que chegavam a RASGAR de tão livres que eles se sentiam para executar os movimentos (e quem já fez 2 aninhos de teatro sabe como é esse negócio, tanto que se fala sempre em "roupa de guerra" para ensaiar), mas... com esse figurino que a Band proporciona, seria possível encarnar uma foca e se esfregar no chão?

O programa original não tinha mulheres no elenco e elas nunca fizeram falta: vi várias vezes os rapazes interpretando diversas mulheres/meninas mostrando-se muito mais femininos do que as duas moças que participam do programa novo. Sem falar na tendência que elas têm para gritar (não, não é que o personagem peça que elas falem alto, até porque o que elas fazem muitas vezes é gritar mesmo. Ou então as vozes são agudas demais e meu ouvido é que não aguenta).

Uma das maiores mancadas na fórmula do programa novo é a participação do público na hora de sugerir temas. No original, um dos participantes do programa se postava junto à plateia, colocava o microfone e dizia "fulano, diga alguma coisa que...". Assim, no susto. A pessoa invariavelmente dizia a primeira bobagem que viesse à cabeça e o resultado muitas vezes ajudava os atores na elaboração de cenas bizarras e absurdas (sem que fosse preciso criar um quadro específico com esse título, como existe agora). No novo programa o tema é lançado, o apresentador fica procurando alguém na plateia para contribuir e, enquanto isso, todos têm tempo para pensar. Espontaneidade foi-se embora.

Nem vou falar da bobagem que Marcos Mion fez em sair desse programa na MTV. Aliás, todos fizeram grandes bobagens aqui, mas a maior de todas as mancadas quem cometeu foi a MTV quando perdeu um elenco tão perfeitamente entrosado (pois o Quinta Categoria original, com o mesmo palco, os mesmos jogos e a mesma abordagem da plateia permanecem lá, mas com novos atores que, embora tenham sua graça, não têm o carisma nem a naturalidade dos originais), responsável pelo programa mais legal da casa (Marcelo Adnet e o Comédia MTV só chegaram depois. Para salvação da MTV, já que o M do nome da TV é o que menos tem por lá).

Eu tive certeza de que esse É Tudo Improviso era um fiasco sem tamanho na última segunda-feira, quando levaram um cara hilário como o Danilo Gentili para participar de um quadro e nem ele conseguiu me arrancar um mero sorriso (parecia mais perdido do que cego em tiroteio). Depois descobri que na verdade ele participou de DOIS quadros, mas eu havia mudado de canal antes que o primeiro terminasse. Lamentavelmente.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

@liscapisca Meets The Television: Domingão da Casé!



Inhaí... após três semanas sem TV, estou de volta de meu retiro espiritual. E volto trazendo uma bomba: você sabia que os programas de entretenimento que passam na TV uruguaia são, em sua maioria, produzidos pela Argentina, e não no país? Diz uma amiga que tenho em Montevideo que isso acontece porque os uruguaios não dão bola para a TV enquanto entretenimento, não querem saber de produzir nem de assistir (os programas jornalísticos, obviamente, esses são feitos no país). Isso talvez explique a esmagadora quantidade de livrarias e sebos, os excelentes índices de educação e cultura do país (e todas as demais consequências, como ser o país mais seguro e de melhor qualidade de vida da América do Sul, só para dar uma noção do que é uma terra de gente civilizada).

Mas, bem, li hoje uma entrevista do Marcelo Médici para A Tribuna em que ele diz, em outras palavras, que a TV apresenta aquilo que o povo quer ver. Portanto, paremos de reclamar que a TV brasileira não tem qualidade – nós é que não temos senso crítico e continuamos a assisti-la. E estamos lá, espelhados nela. Faz sentido: a TV uruguaia não tem uruguaios porque eles estão ocupados longe dela. Mas tem argentinos, inclusive se exibindo no Big Brother, que lá se chama Gran Hermano, mas é igualzinho ao daqui: as legendas explicam “estão falando de Fulano e Beltrano”, “veja a briga de Fulaninha e Fulanalda”. O que me leva a concluir que rixa entre brasileiro e argentino não tem pé nem cabeça pois, enquanto sociedades consumidoras de TV, somos iguaizinhos.

Pois bem, a TV brasileira espelha a sociedade tão bem que agora tem um programa que BERRA Brasil-il-il-il, brasilidade é isso aqui, somos-um-país-tropical e etc e tal. A tradução perfeita daquilo que o Brasil é vai ao ar aos domingos, no horário do almoço, na TV Globo. Ou melhor: a tradução perfeita daquilo que o gringo PENSA que o Brasil é. Começa pela apresentadora, Regina Casé, que tem a cara do Brasil. É isso mesmo, crianças: Xuxa, Angélica, Eliana e Ana Maria Braga não têm cara de brasileiras (que tenham nascido fora da região Sul). A tia Regina Casé sim, essa podia ter nascido em qualquer lugar do país, do Oiapoque ao Chuí. Os convidados entram dançando ao som de um sambinha. Pára tudo: ATÉ O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO VEIO SAMBANDO. Lembrei do Príncipe Charles dançando com a passista Pinah em 1981 (?). Ora se esse não é isso mesmo que o gringo pensa do Brasil, que é esse é o país em que até os mais improváveis caem no samba?

Enfim, o programa é um festival da disseminação dos estereótipos, e tudo aquilo que os gringos acham que todos os 180.000.000 de nós somos está lá: vários convidados do samba, uma escola de samba diferente a cada domingo, passistas de escola de samba usando biquíni prateado e muitas plumas no palco, crianças fantasiadas de nega-maluca (!) dançando o tempo inteiro, lá pelas tantas entra um grupo dançando funk-de-morro... Tudo com muita cara de o-Brasil-inteiro-é-o-Rio-de-Janeiro, até que lá pelas tantas entra um grupo de gaúchos vestidos com roupas típicas (todas muito longas e muito amplas) preparando um churrasco e fazendo a... dança do pezinho! Uma evidência comprometedora dessas e ainda tem quem não entenda por que o Rio Grande do Sul é um país à parte.

O programa tem alguns pontos muito positivos, por exemplo, o cenário chocantemente colorido (com cara de Televisa Producciones) em nada lembra as produções da Globo, o que me dá a impressão de que a criatividade chegou ao visual da Vênus Platinada. Fernando Henrique Cardoso usou seu tempo para dar declarações esclarecedoras a respeito da descriminalização das drogas, que defende, explicando o que é e como se faz, e citando exemplos que fizeram com que eu parasse de ver o ex-presidente como alguém da turma do legalize e finalmente aceitasse sua proposta como válida. A explanação foi rápida, curta e em termos claros, ou seja, prestou um serviço de utilidade, pois não há como não tê-lo entendido (e sabemos da dificuldade que as pessoas têm em entender um político, ainda mais um do calibre de FHC). Tem muita música, e ao vivo, o que para quem gosta do estilo (hoje foi só sambão, não sei se varia, me pareceu que não), é uma diversão e tanto. Particularmente samba não é minha praia, mas é um som que respeito e tolero, e foi bonito ver vários descendentes de sambistas famosos juntos fazendo uma música agradável aos ouvidos (contrastando com tanto lixo que jovens e adultos andam produzindo e chamando de “rock” ou de “funk”, duas heresias). Mas o que incomoda é essa insistência em que o Brasil é “uma coisa só”: um programa com cara de Brasil teria que ter no mínimo umas 5 horas de duração, para ter tempo suficiente para mostrar todas as nuances de um país tão variado quanto esse. Ou, pelo menos, a cada domingo deveria focar uma região/característica/aspecto cultural diversificado. Mas pelo formato do programa, senti que o enfoque à diversidade ficou só nos 5 minutos dedicados à dança do pezinho e ao churrasco gaúcho. E continuemos vivendo assim então, acreditando (e deixando todos ao redor acreditarem) que o país é 95% composto pelo Rio de Janeiro e 5% pelos demais estados.

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